Descansar é quase um crime! O simples fato de deitar por alguns instantes no sofá, por exemplo, pode gerar uma culpa imensa. Tirar um momento para não fazer nada durante o dia pode ser visto como uma perda de tempo com tantas coisas para serem resolvidas.
O excesso de atividades nos rouba pouco a pouco de nós mesmas. Dividimos a nossa atenção para conseguir dar conta de tudo e a fragmentamos até a exaustão. Talvez estejamos cansadas demais para perceber os sinais que nosso corpo e mente nos dão de que algo não vai bem.
Se o cansaço faz parte dos seus dias, saiba: você não está sozinha. A vida acelerada é uma característica do nosso tempo. Nos sentimos incompetentes quando não damos conta de tudo. Parar não é bem o tipo de coisa que somos incentivadas a fazer.
A valorização social da produtividade estimula esse excesso e sugere uma ideia de autonomia: “Seu sucesso só depende de você”. Só que esse individualismo nada tem a ver com liberdade. Exploramos a nós mesmas, às vezes, sem perceber que isso está acontecendo.
Nas diferentes formas em que a vida pode se apresentar, social e estruturalmente, talvez seja realmente difícil encontrar tempo para o descanso ou mesmo de nos autorizarmos a descansar. A incerteza em relação ao futuro nos empurra para além dos nossos limites.
A preocupação com a manutenção da vida acaba se sobrepondo à preocupação com o bem-estar. Assim, nós fazemos as coisas sem pensar e podemos acabar sofrendo com isso. Precisamos desacelerar para entender o que está acontecendo dentro e fora da gente.
Se levarmos em consideração toda a pressão social por produtividade, descansar pode ser, de fato, um desafio. Entretanto, em uma vida acelerada não há espaço para o novo e para o desenvolvimento da nossa autonomia. Vivemos reproduzindo e acelerando o que já existe.
Questionar essa forma de vida frenética é colocar o presente em questão e não aceitar qualquer coisa. Sair do “piloto automático” é um ato de resistência. Quando desaceleramos, temos a oportunidade de entrar em contato com o nosso mundo e de nos apropriar dele.
Cuide-se e busque ajuda profissional se precisar.
Caroline Leonel - Psicóloga, CRP 06/139876
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